domingo, 9 de novembro de 2008

Hábitos alimentares nas Religiões



Adventistas explicam como fazem escolhas alimentares

Os adventistas seguem preceitos bíblicos quando fazem as escolhas alimentares. Quando uma pessoa é convertida, recebe as doutrinas da Igreja e é instruída quanto aos cuidados que deve ter com relação à saúde. A alimentação balanceada, rica em vegetais, deve ser preferencialmente vegetariana ou semi (com restrição à carne vermelha e a certos tipos de peixes no cardápio). Com a Bíblia na mão, o pastor Elias de Carvalho Pedrosa mostra várias passagens que sugerem a determinação de Deus para os seres humanos, quanto aos tipos de alimentos a serem consumidos.

“Inicialmente, Ele nos falou para comer os frutos de todas as árvores. Mais adiante, após o dilúvio, afirmou que os homens poderiam se alimentar de certos seres viventes. Acredito que depois do pecado o organismo do homem se desorganizou. O que comemos influencia no nosso comportamento psíquico, por isso é tão importante que façamos as escolhas alimentares com sabedoria”, conceitua.

Na opinião do pastor Elias, que aderiu ao vegetarianismo total há três anos, o respeito ao corpo – expresso através da alimentação - é uma forma concreta de cultuar a Deus. “Ele cuida de nós, mas devemos fazer a nossa parte. Na nossa igreja, prescrevemos oito remédios naturais que são muito importantes para o bom funcionamento do corpo. Eu mesmo faço uso e não utilizo medicamentos, a não ser em casos extremos”, declara.

O religioso se refere aos conceitos repassados como terapia para os adventistas. “Nossos remédios são ar puro, luz solar, repouso, água, dieta saudável (livre de alimentos nocivos), prática de atividade física, domínio próprio e confiança no poder do Criador”, afirma. Ao longo do tempo, os adventistas se tornaram “experts” em vida natural e repassam os conhecimentos através de títulos lançados pela Casa Publicadora Brasileira. As escritoras Ellen G. White, Eliza Biazzi e Eunice Vidal são as mais conhecidas.

“As doenças se acumulam no intestino. Quanto mais toxinas são ingeridas, mais problemas intestinais os homens adquirem. Uma boa forma de verificar se a pessoa goza de boa saúde é pelo funcionamento intestinal. Se estiver tudo bem, será como um relógio, ninguém passará mais tempo no banheiro do que o estritamente necessário”, conclui.

Existem várias classificações para os vegetarianos: os que se consideram semi (porque não comem carne vermelha, mas se alimentam de peixes e aves), os ovolactovegetarianos, os lacto e os vegans, que não comem nada de origem animal, além de combater a indústria que utiliza animais para se desenvolver.

Porco é considerado animal impuro

Adventistas, mórmons, judeus e islâmicos (também conhecidos como muçulmanos) não comem carne de porco, tampouco alimentos que contenham sangue. A explicação do cardiologista Expedito Ferreira, presidente da Associação Beneficente Muçulmana do RN, segue o mesmo conceito das religiões que fazem essa restrição alimentar. “O porco é um animal impuro, é um dos principais transmissores de verminoses. Existem certos vírus que podem ser submetidos a alta temperaturas e mesmo assim não morrem”.

A restrição quanto ao sangue diz respeito à importância desse líquido para o organismo. “O sangue representa a vida, ao mesmo tempo em que traz impurezas. Além de tudo, é rico em mau colesterol, aquele tipo que é nocivo ao coração. A ciência nos dá provas o tempo todo de que devemos nos abster de certos alimentos. Acreditamos que a busca espiritual está ligada às nossas escolhas”.

Como a religião islâmica é de origem árabe, os muçulmanos do mundo inteiro são influenciados pela cultura oriental e incorporam também os hábitos alimentares. “A alimentação dos árabes é muito rica em vegetais, em grãos, principalmente grão-de-bico, lentilhas e o trigo. A cultura do Oriente é voltada para os hábitos mais simples, mais naturais, por isso seguimos sem nenhum problema as restrições alimentares”.

Durante o ano, a vida dos islâmicos segue caminhos semelhantes aos dos ocidentais. Todos os dias, eles fazem pelo menos três refeições. Porém, faz parte da doutrina islâmica jejuar durante 30 dias ininterruptos, uma vez por ano, no período conhecido como Ramadan. A data depende de uma série de fatores do calendário lunar e este ano caiu no mês de setembro. Do nascer do sol ao poente, os religiosos não alimentam o corpo. Com esse comportamento, eles acreditam que o espírito recebe as dádivas do sacrifício.

“Não nos alimentamos durante o dia e ganhamos mais tempo para adorar a Deus. O jejum nos deixa mais abertos à meditação. No contexto da alimentação, é importante se abster de alimentos por um certo período, porque evitamos ingerir o que é nocivo ao corpo”, conceitua. Eles são orientados a não ingerir álcool ou substâncias que causam dependência psíquica. Os adventistas e mórmons não bebem café, substituem a popular bebida pela cevada.

A explicação para as restrições dos judeus é espiritual, segundo informou o religioso Manoel Moura Filho. Além da carne de porco e dos peixes de couro (comem apenas peixes de escamas), os adeptos não ingerem crustáceos porque acreditam que sejam alimentos ricos em toxinas. “Há comprovação de que esses alimentos não fazem bem à saúde. O que não faz bem ao corpo, não contribui para o espírito”.

Os seguidores do judaísmo também utilizam a prática do jejum, para purificação do espírito. Uma vez por ano, permanecem pouco mais de 24 horas sem se alimentar. “O Iomkipur é o maior, mas praticamos outros jejuns, em outras ocasiões”. Os judeus não compartilham o natal cristão, porém, como a data é muito popular, eles convivem tranqüilamente com a festa. Aliás, todas as pessoas entrevistadas para essa reportagem afirmaram que convivem muito bem com outras religiões. O respeito mútuo faz parte do conceito de cada uma das filosofias de vida.

Católicos jejuam na semana santa

Cristãos católicos e evangélicos são mais flexíveis quanto à alimentação, mas também incorporam certos hábitos à mesa por influência da religião. Os católicos praticantes costumam jejuar na quarta-feira de cinzas e na semana santa, quando se abstêm de comer carne vermelha. De acordo com o monsenhor Lucas Batista, a carne bovina é rica em proteínas, portanto, não comê-la significa uma forma de sacrifício em nome das pessoas carentes. “Acreditamos que é uma forma de solidariedade com os irmãos que não têm o que comer”.

A maioria dos evangélicos segue os preceitos judaicos de não comer alimentos com sangue. O presbítero Jaime Farias, membro da igreja Vitória Cristã e professor do instituto teológico da mesma instituição, acredita que o hábito (de comer ou não) está mais ligado às questões culturais e regionais e não apresenta sentido real, com explicação fisiológica ou química. “Nos lugares onde existem guerras ou a fome se torna uma realidade devido aos problemas climáticos, como é o caso da região Nordeste, as populações se habituaram a comer todas as partes dos animais, incluindo o sangue. Não podemos condenar quem tem essa cultura”, explica.

A nutricionista Fátima Nunes, adepta de alimentação rica em ingredientes integrais, vê com bons olhos os ensinamentos das doutrinas religiosas quanto ao cardápio dos membros das instituições. “Eu também falo aos pacientes sobre a importância do momento das refeições e que devemos parar e pensar a respeito do que estamos comendo. Eu acredito que existe uma influência direta sobre o que comemos e o que somos. Os hábitos alimentares dos adventistas, do hare krishna e de outras religiões que aderem à dieta balanceada têm tudo a ver com a nutrição funcional”.

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